Falecimento de um Nome
Falecimento de um Nome
Ele é o primeiro bem que adquirimos, ”O Nome”,o único bem que podemos ter quando não temos sequer noção do que é o dinheiro para pagar o registro que estampa nossa primeira aquisição no mundo. Saímos do anonimato; que grande aquisição! Como não podemos escolhê-lo, então, melhor aceitar o que vem e torcer pelo bom senso dos que escolheram por nós. E olha que nem todos tem esse bom senso, agem de forma romântica ou de mau gosto e escolhem nomes que nos farão passar transtornos pelo resto da vida.
Até que ele vai se tornando simpático, acostumamos a ouvi-lo e aprendemos com isso a amá-lo, afinal é ele que representa na sociedade o que somos.
Ele é nosso passaporte para a individualidade, ninguém tem um igual. Que maravilha, nos tornou importante e único.
Ficamos tristes se alguém usa nosso nome para uma brincadeira ou para comentários maldosos por que ele significa tudo o que temos ou somos.
De repente esse Nome depois de muitos anos começa a ter que prestar contas à sociedade, o que antes era ainda responsabilidade de quem o escolheu passa a ser minha responsabilidade. Que orgulho, é meu!!
Agora devo cuidar dele e preservá-lo como meu maior bem.
O nome começa sua jornada, ainda jovem, cheio de boas intenções e limpo, começa a ser rodeado pelos capturadores de nomes limpos; as compras, os cartões de crédito, os cheques especiais. Penso: - Imaginem só como meu nome é importante, ele é escolhido para ter um cheque especial.Que emoção, como ele é importante.
Não há proteção nem ensino nas escolas de como defender nosso nome.
Lá está ele, lindo, impresso nos cartões, documentos, contratos onde basta a credibilidade do nome e uma simples assinatura que você consegue milagres. Os capturadores de nomes fazem até as contas por você, se você está ganhando ” x” você pode gastar até ”xx” a mais do que ganha,afinal tem crédito,ou seja,a conta do vilão começa a seduzir o nome.
Penso novamente: -Se deram essa credibilidade a meu nome é por que eles sabem o que estão fazendo,eles não iriam preencher folhas e folhas de contratos se fosse para não dar certo.
As necessidades começam a aparecer e não entendemos por que nosso dinheiro não consegue mais cobrir as necessidades que antes cobria e esses transtornos começam a crescer. Como é de praxe na maioria dos seres humanos, na hora do desespero o Nome começa a rezar em busca de ajuda,mas na verdade o indivíduo não reza,apenas fala um monte de palavras sem nem perceber o que está falando de tanta preocupação. Quando de repente, do nada surgem os salvadores, oferecendo todo crédito possível a um desempregado desesperado ou aos que estão com contas maiores do que seus salários podem cobrir.
Agora fatalmente é a vez do Nome ser apresentado aos juros , ele vem com imunidade,o vilão vem protegido,não existe armas nem provas do crime afinal nos contratos é colocado tudo de forma sutil onde cegos de tristeza e desespero todos assinam . O golpe é fatal, não dá tempo nem de tentar encontrar uma saída. Com isso lá vai para a lista dos mortos o nome, tão querido, tão idolatrado no início de nossas vidas, vai para a lista dos que morreram para a sociedade, para o crédito e até para os amigos.
Aí percebemos o quanto o mundo desconsidera o ser humano, já que cada um é representado pelo Nome e quando o Nome já não pode oferecer nada a quem o busca ele deixa de ser importante. Percebemos o quanto ele é desrespeitado em certas circunstâncias com calúnias, mídia perversa,marketing enganador e aproveitadores da desgraça alheia como é o sistema financeiro.
E olha que nem mencionei o que é um Nome quando vai para uma página policial.
Méri Aguiar
2007 publicado 2010
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