A prática da oração
“Nada se compara em valor à oração; ela torna possível o que é impossível, fácil o que é difícil”.
São João Crisóstomo
Bispo e Doutor da Igreja
Um dos mais recentes estudos a respeito da oração foi produzido pelo professor titular de Imunologia da Faculdade de Medicina (FMD) da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Eduardo Tosta, que, ressalta-se, não se considera um homem religioso. Em sua pesquisa, desenvolvida durante três anos (de 2000 a 2003) no Laboratório de Imunologia Celular da FMD, ele procurou mensurar o efeito das orações sobre a saúde das pessoas, usando como referência um estudo desenvolvido em 1988, no Hospital Geral de San Francisco, no estado norte-americano da Califórnia.
Esse estudo, desenvolvido pelo Dr. Randolph Byrd, pesquisou 393 pacientes da UTI coronariana que recebiam o mesmo tratamento médico. Eles foram divididos em dois grupos e um deles (com 192 pacientes) recebia orações à distância. Os resultados da pesquisa mostraram que os doentes que foram alvos dessas intercessões apresentaram melhora, usaram menos medicamentos como antibióticos e diuréticos, sofreram menos com edemas pulmonares e insuficiência cardíaca e quase não precisaram fazer uso de respiração artificial.
A pesquisa de Byrd surtiu efeitos milagrosos na comunidade científica norte-americana: apesar de não existirem provas científicas sobre a correlação entre fé e cura, as faculdades de Medicina dos Estados Unidos incluíram em seus currículos, há alguns anos, cursos de Espiritualidade e Medicina. “Nos Estados Unidos, das 121 escolas de Medicinas, 61 têm uma disciplina chamada Orientação Espiritual”.
Já dizia o santo do amor São Francisco de Assis: “Onde há paz e meditação não há nervosismo e nem dissipação”.
QUATRO PRÁTICAS
“Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações”. (At 2.42).
Pode alguém afirmar ter vida plena espiritual nos ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e sem a prática da oração?
Existe mesa com três pernas? Cavalo com três patas? O Novo Testamento com três Evangelhos e o Apocalipse com três cavalheiros? Claro que não!
A Igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo a pedra angular (Ef 2.2-20; 4.11-13).
A Igreja pratica a comunhão fraterna pelas obras de caridade (2.44; 4.32-35; 11,28-30).
A Igreja jamais vive sem a fração do pão, ou seja, sem a Eucaristia (At 20.6-7; 1Cor 11.23-33).
A Igreja jamais vive sem a prática da oração, se assim fosse não seria chamada de “Casa de Oração” (Mt 21.13) e sim clube religioso ou sinagoga de Satanás (Ap 2.8-9).
Jesus Cristo viveu e ensinou a gloriosa prática da oração:
1. A oração do Pai-Nosso (Mt 6.9-13).
2. Oração, silêncio e deserto na vida Cristo (Mt 4.1-11; 14.23; Mc 1.35).
3. Vigiai e orai para que não entreis em tentação (Mt 26.41).
4. Ensinamento sobre a oração via parábola (Lc 18. 1-8).
5. Oração pela ressurreição de Lázaro (Jo 11.40-45).
6. Na cruz clama ao Pai (Mt 27.46).
7. Após a ressurreição ora pela missão dos apóstolos (Lc 24.50-53).
Nosso Senhor Jesus Cristo é perfeito modelo de orante.
Afirmava de modo brilhante São João Maria Vianney, o Cura de D’Ars: “A oração é simplesmente a união com Deus. Coisa linda a união de Deus com sua pequenina criatura; felicidade impossível de se imaginar. Quanto mais se ora, mais se quer orar”.
O LUGAR PARA ORAÇÃO
1. O coração (Lc 2.19-51; Ap 3.20).
2. A nossa casa (Mt 6.6).
3. A casa de Deus (Mt 21.12-24; At 3.1).
4. O deserto (Os 2.14; Ex 3.1-4; Mt 4.1-2).
5. O monte (Ex 34.1-9; Mt 14.23).
6. O vale (Gn 32.22-29; Ez 37.1).
7. Em todo lugar (1Tm 2.8).
“Orai sem cessar” (1Ts 5.17).
PERÍODO DE ORAÇÃO
1. Era prática do povo judeu orar três e sete vezes ao dia (Sl 55.17; 119-164). O profeta Daniel orava três vezes ao dia (Dn 6.10).
2. Orava-se de madrugada (Sl 119.62; Pr 8.17). Paulo e Silas (At 16.23).
“Com orações e súplicas de toda a sorte, orai em todo tempo, no Espírito, e para isso vigiai com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6.18).
A prática de orar sete vezes ao dia é vivida pelos monges beneditinos e outros.
PUSTURAS DE ORAÇÃO
1. Em pé (1R 8.22; Mc 11.25).
2. De joelhos ( 2Cr 6.13; Lc 22.44; At 9.40).
3. De bruços (Nm 16.22; Js 5.14).
4. Prostrados (Sl 95.6; Sl 99.5).
5. De mãos levantadas (Sl 22.2; 1Tm 2,8).
O PROGRESSO DE ORAÇÃO
1. Confissão (Mt 6.9-13; Tg 5.16). “Jesus tem misericórdia de mim que sou pecador” (Mc 10.47).
2. Humildade (Gn 18.27; Lc 2. 37).
3. Perseverança (1Sm 1.12; Lc 2.37; Rm 12.12).
4. Leitura e meditação (Js 1.8; Sl 1,1-2; 119. 9-16; Mt 22. 29; Jo 5.39).
5. As três vias para contemplação:
a. Purgativa.
b. Iluminativa.
c. Unitiva.
Estado místico-contemplativo:
a. Visão (2Rs 6.8-17; Mt 17. 1-9; At 2.16-19).
b. Revelação (At 11.27-29; Ap 1.1).
c. Arrebatamento (At 8.39-40; 2Cor 12.1-4).
d. Profecia (1Rs 22.14-28; 1Cor 14.3-31;At 21. 8-11).
“Crescei na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pd 3.18).
MINISTÉRIO DE INTERCESSÃO
“Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm a autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade” (1Tm 2.1-2).
1. Moisés pelo povo judeu (Dt 9.25-29).
2. Samuel pela monarquia (1Sm 7.5; 12.23).
3. Esdras e Neemias pela reconstrução do Templo e dos muros de Jerusalém (Esd 10.1-6; Ne 1.3-11).
4. Cristo pela unidade dos cristãos (Jo 17.1-26).
5. Epafras pelo apóstolo São Paulo (Cl 1.7;4.12-13), seu dia é 19 de julho.
6. A comunhão dos santos pelos pedintes.
7. Os monges e manjas pela Igreja e pela humanidade.
8. Santa Helena pelo filho imperador Constantino.
9. Santa Mônica pelo filho Santo Agostinho.
10. Santa Teresinha do Menino Jesus pelos sacerdotes e missionários.
“Com a oração, contanto que sejam humildes, confiante e perseverante, tudo se alcança” diz o Bispo e Doutor da Igreja Santo Afonso de Ligório.
ORAÇÃO E SUAS COMPANHIAS
A oração não é uma prática solitária, individualista e egocêntrica, ela tem sempre companhias para profunda comunhão. Vejamos:
Oração e humildade (Gn 18.27; 2Cr 7.14).
Oração e santidade (Ex 19.8-11; 2Cr 7,15-16).
Oração e luta (Gn 32.28).
Oração e amargura (1Sm 1.10-16;Is 1.1; Rm 12.12).
Oração, perseverança e paciência (1Sm 1.12; Sl 40.1; Rm 12.12).
Oração e deserto (Os 2.14; Mt 4.1-2; 14.23).
Oração e vigilância (Mt 26.41; Ef 6.18).
Oração e súplica (At 1.14; Ef 6.18).
Oração e poder (At 4.31; 16.25-26).
Oração e clamor (Ex 2.23; Jr 33.3).
Oração e confissão (Esd 10.1; Tg 5.16).
Oração e intercessão (Dt 9. 25-26; 1Sm 12.23; 1Tm 2.1).
Oração e perdão (Mt 6.12; Tg 5.15).
Oração e louvor (At 16.25; Sl 42.8).
Oração e comunhão (At 2.42)
Oração e esmola ( Mt 61-6; At 10.4).
Oração e jejum (Ex 34.28; Mt 17.21; Lc 2.37; At 9.9-11; 13.1-3).
ORAÇÃO: PORTO SEGURO
Diz São João Crisóstomo: “A oração é uma grande armadura, uma defesa, um porto, um tesouro. A oração é uma valiosa arma para vencer os assaltos dos demônios; é uma defesa, que nos conserva em todos os perigos: é um porto seguro contra toda tempestade; é um tesouro, que provê de todos os bens”.
Quem ora:
CHORA de felicidade.
ADORA o único Deus verdadeiro.
IMPLORA por humildade.
MELHORA a vida.
FLORA o perfume de Cristo.
APRIMORA os conhecimentos.
VIGORA a alma.
REVIGORA o espírito.
Afirma Santo Tomás de Aquino: “A oração é necessária não para que Deus conheça as nossas necessidades, mas para que nós fiquemos conhecendo a necessidade que temos de recorrer a Deus, para receber oportunamente os socorros da salvação”.
CONCLUSÃO
“Invoca-me eu te responderei e te anunciarei coisas grandes e inacessíveis, que tu não conheces” (Jr 33,3).
Clamar ao Senhor Deus por nossas necessidades e solução dos nossos problemas. Buscar em Deus os grandes conhecimentos para resolver questões complicadas da humanidade. Deus é único Deus da sabedoria e do conhecimento. Ele concede aos seus filhos esse tesouro de salvação (Tg 1.5). Deus que sentir o cheiro do nosso incenso, que são as nossas orações (Ap 5.8).
Deus nos fala pela Palavra e por atos revelativos e deseja o nosso diálogo pela prática da oração.
Intercessão, súplica, silêncio, deserto e o recolhimento na oração foram e são práticas na história dos cristãos. A nossa vida só tem sentido na dimensão orante. A oração é a prática autêntica de comunhão com Deus e com o próximo. É o amor abissal pelas coisas espirituais.
Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Especialista em Ciência Social da Religião
E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com